27 de março de 2011

Quero de volta o meu sonho!

Luís Farinha


Os últimos tempos têm sido marcados por uma sucessão de situações e acontecimentos, quaisquer deles capaz de tirar a tranquilidade e a paz de espírito que o cidadão comum precisa para ir empurrando a vida para a frente. Aliás, chega a ser difícil perceber onde vamos nós buscar reservas de energia depois de diariamente sermos submetidos à avalanche de notícias dantescas trazidas pela comunicação social. Notícias a que, obviamente, ainda temos de ir acrescentando os reveses da nossa própria vida pessoal.

A verdade é que nós, os humanos, temos muito mais resistência anímica do que é suposto, à primeira vista. Queixamo-nos, lamentamo-nos, mas (sabe Deus como...) lá vamos andando em frente, através do mar revolto em que, nos últimos tempos, se transformou o dia-a-dia.

É certo que, às vezes, alguns de nós, lá se deixam envolver mais do que a conta nos problemas que os rodeiam e então perdem de todo o controlo de si mesmos. Mas, forma geral, passada a onda alterosa que os submergiu durante algum tempo, aí os temos de novo, prontos a enfrentar os problemas que, afinal, já fazem parte deste mundo aloucado em que nos foi dado viver. Que mais lhes resta, afinal?

Misturados com os próprios problemas pessoais, os últimos tempos têm-nos trazido por acréscimo uma série de acontecimentos que chegam e sobram para ensombrar a rotina do nosso dia-a-dia. Enumerá-los... para quê, se todos nós os conhecemos de sobra?

Fosse lá pelo que fosse, talvez porque a vida real se me vai tornando um fardo difícil de levar, a noite passada tive um sonho bonito que, durante o tempo que durou, me consentiu um sono tranquilo. Foi um sonho tão lindo que, quando despertei, grande foi a minha frustração ao verificar que tudo não passara afinal de uma utopia trazida pelos anseios que se agitam nos recônditos do meu subconsciente.

Sonhei que vivia num mundo onde não havia guerras. Num mundo em que não existiam crianças com fome e crescidas no medo, submetidas à bestialidade. Sonhei que todos os homens eram iguais e que deixara de haver a impudicícia a separá-los. Sonhei, imaginem, que a palavra PODER fora reformada e que o seu exercício era agora garantido por homens sábios, de boa fé.  

Acordei a sorrir, transbordante de felicidade!

Aos poucos, porém, enquanto ia tomando consciência de que tudo fora um sonho e de que o mundo real continuava a ser aquele em que eu sempre vivera, senti a decepção submergir-me, senti a raiva crescer e a náusea a aumentar. Quis correr de volta ao meu sonho bonito, mas não encontrei o caminho para lá chegar.

Então, relutante, levantei-me, vesti-me e regressei à selva que me esperava lá fora.

1 comentário:

  1. Apesar da selva que nos rodeia, há muitos motivos para não deixar de sorrir todos os dias...

    J

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