7 de março de 2012

Portugal pelas ruas da amargura

Luís Farinha



Para comprovar a falta de talento dos políticos lusos para o exercício da governança basta observar como têm sido incapazes de, desde sempre, não terem conseguido retirar Portugal do lugar que ocupa por demérito na cauda da Europa. Por culpa de um chorrilho de medidas precipitadas tomadas pelos governantes mal amanhados que se têm passeado pelos corredores do poder e, sobretudo, em consequência dos efeitos perversos da centralização que o tornou dependente dos interesses dos seus primos ricos da Europa, Portugal está agora a ser fustigado duramente por uma desordem económica e social internas sem precedentes. O desastre é de tal monta que, em última instância, justificou até a directa intervenção estrangeira na governação do país.

Neste momento conjugam-se os maus ventos nesta ponta da Europa.
Deixando-se arrastar pela orgia de sedição que vai lá por fora e pelos excessos cometidos cá dentro, Portugal está - por assim dizer - virado de pernas para o ar. Na verdade, desde os grandes escândalos económicos aos despedimentos em massa. Desde o aumento da criminalidade até níveis nunca imaginados, à falência da Saúde, da Justiça, da Educação e da Segurança Social. Desde os gastos exorbitantes utilizados na construção de sumptuosos estádios de futebol e de um sem número de outras obras faraónicas edificadas a meio de uma precária situação económica sem precedentes. Desde as fugas fiscais e fraudes económicas dos que, para o efeito, atempadamente se colocaram a jeito, aos cortes desbragados dos salários dos trabalhadores, ao crescimento desmesurado das suas contribuições e ao aumento incessante do bens essenciais que atingem principalmente (e como de costume) os que menos têm, é mais que preocupante a situação presente dum Portugal que definha a olhos vistos havendo já indicadores de que uma eventual mudança para melhor não é previsível nos anos mais próximos.

Entretanto, no Parlamento, os políticos alijam responsabilidades acusando-se mutuamente enquanto trocam diatribes, adjectivando os adversários com expressões impróprias. Enquanto os do Governo falam, os da oposição armam sorrisos desdenhosos, sem lhes ocorrer que muito do que hoje o povo se queixa teve origem quando, eles próprios, ocupavam as cadeiras do poder.

Que confiança pode o cidadão comum extrair deste cenário de opereta bufa?

Pelo contrário, a credibilidade política vai esmaecendo de dia para dia por culpa exclusiva dos que tudo prometem em tempo de eleições mesmo que incapazes se sintam para resolver os grandes problemas nacionais de fundo.

E assim vai o Portugal pequenino que noutros tempos, com homens de outra têmpera, conseguiu dar novos mundos ao mundo.

O poder é dignificante quando exercido com saber e tendo em vista apenas o bem-estar e a melhoria de vida dos cidadãos. Infelizmente e de acordo com as provas dadas esse não é o caso decorrente. Esta é a conclusão da maioria dos portugueses que assiste com crescente preocupação ao agravamento progressivo das suas condições de vida, enquanto umas dúzias de espertalhões oportunistas tecem para si salários suculentos e reformas sumptuosas, deixando ao povo anónimo as sobras da sua ganância desmedida e o encargo de se haver com as nefastas consequências daí subjacentes.

É digna de reflexão a constante demonstração de ausência do sentido solidário das camadas bem instaladas da sociedade lusa: os políticos e beneficiários do sistema instalado, levando-nos a questionar como podem tais sujeitos com rendimentos de milhares de euros mensais ter ideia de como consegue sobreviver um trabalhador ou pensionista com rendimento de 300 ou 400 euros, aqueles a quem o senhor primeiro-ministro apoda de ‘piegas’. Os mesmos que se tornaram as vítimas preferenciais dos esburgos engendrados nos cómodos cadeirões do poder. O que estaria a pensar o mais alto magistrado da Nação ao queixar-se de que os seus rendimentos não chegam para satisfazer os seus encargos pessoais… o que se há-de pensar?  Como será que os ricos vêem o povo do seu país?

Por favor, um pouco de sensatez, meus senhores…