3 de março de 2011

A máquina de escrever


Lembro-me que a primeira máquina de escrever que usei neste meu ofício de escrevinhador era uma coisa chamada Adler que hoje jaz esquecida num obscuro recanto duma arrecadação de velharias. Comprei-a, já usada, numa casa de penhores. Habituado à caneta e ao aparo, quando comecei a ver a escrita que dela saia senti-me transportado ao cume do deleite.  Muitos anos passados, recusei até ao desespero o uso do computador. Para quê tal engenhoca se entre mim e a máquina de escrever tinha amadurecido uma cumplicidade inabalável? Por fim vi-me constrangido a aceitar o que se tornou inevitável: muito a custo fui (de má vontade…) aceitando a monstruosa modernice. Curiosamente, interrogo-me agora como me foi possível escrever, corrigir, alterar milhares de peças escritas para publicação sem a prestação tão cómoda e rápida do processador de texto. Hoje só me zango com o computador quando vejo um miúdo de 7, 8 anos a servir-se dele como eu gostaria mas, confesso, não sou capaz. Por isso limito-me a considerá-lo como uma máquina de escrever inteligente, acrescendo-lhe a vantagem de me ajudar na recolha de dados que antes me faziam perder imenso tempo.

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