21 de março de 2011

A descrédito da classe política

Luís Farinha

Embora com alguma relutância, somos obrigados a reconhecer que, forma geral, a classe política não beneficia de uma imagem muito favorável junto do chamado povo da Nação.

Ouvindo as conversas de café, o “bate-boca” dos encontros fortuitos do quotidiano, são vulgares as expressões: “eles só se preocupam com a vida deles”; “eles querem é ‘tacho”; "eles prometem mas nunca cumprem...". No caso, “eles” são os políticos. Há até quem pense que a actuação da classe política pouco mudou com a revolução de Abril, mantendo-se os mesmos vícios, a mesma filosofia... mas de sinal contrário. Hoje, em vez de não darem cavaco dos seus actos, como faziam antigamente, demonstram uma aparente abertura à opinião pública, cultivando o “falar sem dizer nada”, em que há verdadeiros especialistas na arte de contar histórias para jornalista ouvir.

Mas... ensina a sabedoria popular que... “Prometer não é dar, mas aos tolos enganar”. E o povo dá sinais evidentes que já começa a estar farto de ser tido pelo tolo a quem tudo é prometido mas a quem nada é dado.
Daí, talvez, a tendência para acreditar cada vez menos nas promessas que nos fazem nos períodos eleitorais; daí a inclinação para fazer ouvidos moucos às palavras optimistas que os políticos espalham a rodos sempre que têm a imprensa por perto.

Talvez um pouco tarde, mas ainda a tempo, o povo parece ter aprendido finalmente o significado da palavra... “demagogia”. E, queiramos ou não, a verdade é que a maior parte daquilo que os políticos despejam em catadupas, não passa disso mesmo, de palavras ocas.

Afinal, quantas promessas têm sido feitas... sem que haja a mínima intenção de as cumprir? Isso acontece normalmente quando em foco estão problemas ligados à saúde, à segurança social, à educação, à confiança na Justiça, ao nivelamento do padrão de vida pelo modelo europeu, à segurança das pessoas e haveres, os incêndios do Verão, o Código Laboral... Porque a verdade é que o que dá votos não são a Saúde, a segurança social, a subida significativa das pensões, a Educação, o melhor nível de vida... coisas que não enchem o olho. O que dá votos é a obra feita que dá nas vistas, como as pontes, as estradas, os TGV’s, os novos aeroportos, as Expo’s 98, os Euros 2004... e assim por diante! A “obra” é feita, os políticos põem-se em bicos dos pés com discursos inflamados... e o povo fica na mesma: com reformas de miséria, com a Saúde de rastos, com uma Educação manca, com uma Cultura de faz-de-conta, com a Justiça por reformar e um nível de vida a cair aos pedaços, próprio do 3.º mundo. Daí, talvez, a desconfiança que os cidadãos manifestam em relação à classe política, desconfiança que se vai tornando cada vez mais óbvia, com a crescente abstenção às urnas de voto, de eleição para eleição. Não será isso uma clara manifestação do cepticismo que os cidadãos sentem em relação aos políticos que os governam? Se isso não é sinal evidente de descrença, então será o quê?

É fácil perceber que mudar a estrutura social de um país não é tarefa fácil. Não se transformam de “pé para a mão” muitos anos de baixa qualidade de vida numa sociedade económica e socialmente equilibrada. Com boa vontade podemos até acreditar que alguns dos políticos que têm passado pelas cadeiras do poder têm-se realmente esforçado para dar aos portugueses um nível de vida à altura do resto da Europa. Só que nesses casos o insucesso do eventual empenho deixa à mostra uma notória falta de talento para levar a bom termo as suas boas intenções. Na verdade, algum motivo leva a que 35 anos depois de Abril continuemos a ser o país mais pobre do velho continente.

Cogitando sobre esta matéria, apenas conseguimos chegar a uma conclusão: os portugueses não são um povo igual aos outros povos. Contudo, se esta é uma ilação negativista, se tal não for a razão que leva a não conseguimos sair da “cepa torta”, teremos de aceitar uma mais dura realidade: é real e incontestável a inaptidão dos senhores que têm passado pelas cadeiras do poder para a consecução do objectivo que se propuseram, a governação de Portugal.

Estas são conclusões que parecem mostrar um certo derrotismo. Mas por favor expliquem-nos em que é que Portugal como Nação é inferior às outras nações. O que é que essas nações têm a mais do que a nossa? Pensemos na Holanda, com os seus 5.444 Km2; na Dinamarca, com 42.192 Km2; na Bélgica, com 30.507 Km2; na Suiça, com 41.300 Km2; no Luxemburgo, com 2586 Km2; na República da Irlanda, com 70.280 Km2; e perguntemo-nos a que se deve a prosperidade destas nações, comparando-as aos 88.419 Km2 de Portugal, com um dos seus lados banhado pelo Atlântico, com um Sol radioso e uma luminosidade exaltada pelos que nos visitam. Não esquecendo o facto importante de que alguns dos países aqui referidos como comparação, terem sido ocupados e esventrados pelas hordas nazis dum tal de Adolfo, ou quase todas não possuírem condições naturais nem de longe comparáveis às de Portugal.

Perante isto, como se poderá explica a pobreza de que Portugal padece, como se de um destino irrevogável se tratasse?

Este texto foi escrito e publicado em 14 de Maio de 2004. Tendo em conta a sua actualidade achei por bem dá-lo de novo à estampa, sem qualquer alteração, quase sete anos depois, em 17 de Dezembro de 2010, no Diário de Notícias, tentando mostrar que em Portugal nada muda a não ser para pior.                                                                                                  

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