5 de março de 2011

Os jovens

Nos últimos 20 anos quantas vezes sorri de comiseração quando via passar por mim os jovens com a fralda de fora, as calças rotas e uma barbicha mal semeada. Lembrava-me do tempo da minha juventude e fazia a comparação: meu Deus, como é possível termos chegado a isto, pensava…
Seguindo os ditames da moda, a rapaziada adoptou agora a moda das calças com os fundilhos pelos joelhos e uma crista armada no alto da cabeça, e eu já não sorrio. Com algum esforço, reconheço, acabei por compreender quão “bem comportado” eu tinha sido quando, com vinte e tal anos, ia ao alfaiate mandar fazer os meus fatos, sujeitando-me às duas ou três provas obrigatórias para que a obra ficasse nos trinques. É verdade que nesse tempo ainda não se tinha inventado o pronto-a-vestir, mas também não era preciso exagerar, penso agora. Contudo, era assim que todos se vestiam: os funcionários das repartições públicas e dos bancos, os empregados das lojas mais requintadas e dos escritórios disto e daquilo, os políticos - frequentadores ou não dos corredores do poder - a gente da noite e os que eram convidados para o que fosse, incluindo casamentos, baptizados e funerais. E só escapavam dos fatos (mas não das gravatas…) os que usavam fardas, como os carteiros, condutores dos carros eléctricos, motoristas de táxis e outros. Era um cenário que não se estranhava porque se alguém, nesses tempos, passasse na rua com as calças descaídas e o rabo meio à mostra podia suceder-lhe uma de duas coisas: ou era detido pelo polícia de giro (havia muitos nesse tempo) ou era metido num hospital de alienados.   
Os jovens de agora são mais soltos, menos formais, ou trajam assim porque vivem mais escravizados às modas do que nós quando tínhamos a sua idade?
Creio que esta é uma questão ainda mal resolvida.
Nos anos 40 e 50 do século passado não comprávamos roupas de marca, não corríamos, feitos tontos, atrás das etiquetas, gastávamos menos dinheiro e andávamos mais bem vestidos, dirão os que já cruzaram a meia-idade. Mas será que têm razão?

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