1 de março de 2015

A vida é isso aí

Luís Farinha

A vida é mesmo assim, formada de algumas coisas boas, à mistura com muitas outras que nos deixam amedrontados.

Meus amigos... a vida é tudo isso, mas é também a única que temos. E, mais que não seja, isso é já razão bastante para não nos deixarmos vencer nas horas amargas, porque depois de cada instante há sempre outro que vem chegando, e tudo na nossa vida só precisa de um breve momento para mudar.

É por isso, meus amigos que eu - apesar dos anos que já deixei para trás - continuo a acreditar que daqui a um minuto, a uma hora, a um dia, a vida me vai dar, finalmente, aquilo por que eu sempre esperei, que eu sempre desejei...

É uma postura optimista, um acto de fé, uma forma de estar na vida. Pode ser uma dessas coisas… podem ser essas coisas todas.

Atingi aquele estágio da existência em que só me resta a esperança de assistir ao renascer das manhãs que ainda estarão para vir. E se os primeiros alvores me trazem a notícia de mais uma iniquidade das que hoje fazem parte do quotidiano, entristece-me pensar que de tudo o homem é culpado: a ambição desmedida, a falta de sentido da honra, a valorização do vazio, o abuso do poder, a demagogia, a cultura do protagonismo, são as moléstias que fizeram da sociedade aquilo que ela é hoje.

A vida, meus amigos, não é bem aquilo que a maioria de nós sonhou, realmente não é. Contudo, é importante que não percamos a faculdade de sonhar, de amar a vida. É importante, sobretudo, que mantenhamos a perspectiva de que, para cada um de nós, tudo na vida pode mudar num instante apenas, bastando para isso um pequeno quase nada e, sobretudo ter fé… muita fé!

Recordo-me que quando era jovem quase sempre adormecia com um pensamento que me fazia feliz. Acreditava então que o dia de amanhã seria o tal em que, finalmente, me iria acontecer aquela grande aventura que eu esperava há muito tempo.

Era um pensamento ingénuo?

Talvez fosse, mas a verdade é que ele alimentou grande parte da minha adolescência.

E sabem uma coisa? Muitos anos depois, nesta idade em que normalmente os sonhos já não comandam a vida, ainda dou por mim, de vez em quando, a adormecer com o pensamento de que o amanhã que aí vem é que me trará, finalmente, a realização do tal desejo que sempre me embalou.