9 de março de 2011

A ditadura da moda

Já aqui fiz referência à moda das calças caídas, um jeito de vestir que deixa a descoberto uma parte do rabiosque dos seus seguidores já que os fundilhos ficam pela altura dos joelhos. É fixe, dirão uns, enquanto outros consideram esta moda como de extremo mau gosto. Seja bonito ou feio, sempre que me cruzo nas ruas com um ou outro jovem assim trajado não consigo evitar a lembrança do Cantinflas, um actor cómico mexicano que fez o encanto da minha meninice e que despertava gargalhadas aos mais sisudos graças ao seu modo peculiar de usar as calças tal qual como hoje se usam. A quem me vir a sorrir nessas ocasiões, garanto que não se trata de uma exteriorização de escárnio mas da evocação dum passado em que os portugueses ainda riam de coisas tão simples como esta.
A propósito, li há dias, não sei onde, que esta moda nasceu nas cadeias norte-americanas, servindo para distinguir os detidos homossexuais que assim anunciam aos outros presidiários a sua disponibilidade. Nos EUA a polémica levantada pela moda das calças caídas já deu até motivo à sua proibição em alguns estados e à intervenção pública do presidente Barack Obama. Eles lá sabem porquê…

Hoje vou continuar a falar de moda, desta feita, porém, referindo não os jovens irreverentes, mas os homens e mulheres que a ela aderiram. Refiro-me ao uso excessivo dos óculos escuros.
Estes acessórios sempre se usaram, sendo até recomendados a quem sente incómodo causado pela extrema luminosidade, especialmente da que resulta do Sol ofuscante do Verão. Os óculos escuros sempre foram usados também por aqueles que nasceram invisuais ou que perderam a faculdade de ver devido a circunstâncias várias. Refiro casos conhecidos como o de Ray Charles, José Feliciano e Stevie Wonder entre outros, que usam (ou usavam) óculos bem escuros para não constranger os auditórios que assistem (ou assistiam) aos seus concertos. Parece não merecer contraditório que o público não fica indiferente à deficiência do artista que enquanto exibe a sua arte, como é o caso de André Bocelli, teima em não usar óculos, facto que tem dado motivo a várias controvérsias.
O meu reparo, se assim puder ser considerado, não tem a ver com o seu uso, pois cada qual tem o direito e a liberdade de usar como adorno o que mais lhe aprouver. Tem a ver, sim, com a indelicadeza manifestada pela quase totalidade dos seguidores desta moda ao não darem conta da dificuldade que há em estar à fala com uma pessoa com óculos pretos colocados. Quando falamos com alguém para onde olhamos? Para o chamado ‘espelho da alma’, os olhos. Contudo, se estes estão tapados, qual é a alternativa? Olhar para a boca, de onde saem as palavras, naturalmente. Já considerou, então, o efeito indelicado de estarem a escutá-lo olhando-lhe para os dentes, língua, se não mesmo para as amígdalas? Num encontro fortuito ou propositado será assim tão difícil usar a delicadeza de tirar os óculos?
Pela parte que a mim respeita, confesso que não sou capaz de estar a falar com alguém enquanto olho sem pestanejar para uns vidros pretos que, em muitos casos, tapam metade do rosto.

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