27 de julho de 2011

Amo-te!

Luís Farinha


Amo-te!
Uma palavra que, a um tempo, pode ser doce... como pode esconder, sob essa doçura aparente, o mais abjecto embuste!
Amo-te!
Um rio de promessas... ou um oceano de falsidade!
Amo-te!
Quantas vezes terei ouvido essa palavra susurrada ao meu ouvido? E quantas vezes a terei dito eu, só porque me perguntavam... amas-me?
Amo-te!
Há quem pense que a ideia alumia... mas que o amor aquece. Que a ideia é luz... mas que o amor é fogo. Que a ideia molda... mas que o amor funde. Que a ideia apura glórias... mas que o amor opera milagres.
Contudo, do fundo dos anos que já vivi, vem-me a convicção de que a palavra amo-te, serve apenas de música de fundo nos momentos fugazes da paixão em que consumimos os corpos e os sentidos.
Amo-te!
Ouvi tantas vezes esta palavra, e tantas vezes a disse que hoje a sinto gasta pelo uso e despolida pela banalidade.
Bernardim de Saint-Pierre dizia: "Não há amigo tão agradável como uma amante que nos ame sinceramente".

Meu caro Saint-Pierre... sempre pensei que você fosse mais sabido nestas coisas do amor...

Amo-te, é uma expressão que à força de ser utilizada sem sentido se transformou numa forma rebuscada e mais sonante de dizer... "quero-te"! Só que na palavra "quero-te", há muito mais sinceridade porque, sem recursos adocicados, limita-se a deixar adivinhar o desejo simples da posse.
Assim, "amo-te"... cheira a uma expressão bacoca que quer dizer aquilo que se não sente.
Amo-te!
Pela vida adiante, quantas vezes lhe disseram isto?
... e quantas vezes você a terá dito também?
E afinal... quantos casamentos, quantos romances fracassados começaram pela exclamação... amo-te!
Sabem que mais?
Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo de actividade interior. É a causa, o fim e o resumo de todos os afectos humanos.
Mas verdadeiro, verdadeiro, é "o amor que sai de Deus e a Deus volta"... o resto é, na maioria das vezes, apenas e simplesmente obra do diabo...

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