11 de julho de 2011

Sem resposta…

Luís Farinha

"Mas que raio de país vou deixar ao meu filho?"

Depois de tantos anos parece que ainda estou a ouvir o som da sua voz quando a conversa puxava para a política… “mas que raio de país vou deixar ao meu filho?”

Estávamos ainda muito longe do 25 de Abril, num tempo em que o Hitler ainda não tinha deitado fogo à Europa e, por cá, o Salazar continuava, firme, na cadeira do poder.

Nesse tempo, que continua bem vivo na minha memória, já Portugal era, por direito próprio, o escárnio do resto do mundo. Orgulhosamente sós - um slogan que os políticos de então vulgarizaram - vegetávamos na cauda dos outros países, exibindo o título de “o País mais atrasado da Europa”.

Os anos passaram, o menino que eu era transformou-se num jovem cheio de esperança, veio a guerra, e Portugal foi atravessando todo esse período como uma nação parada no tempo.

Entretanto, cansado de correr atrás de coisa nenhuma, o meu pai foi-se embora deste mundo e eu deixei de o ouvir dizer, preocupado, “mas que raio de país vou deixar ao meu filho?”

Correram os anos 50… 60 e, em meados de 70, numa manhã de Abril, reacendeu-se a esperança dos portugueses.

Quando isso aconteceu, quando se começou a falar de liberdade, tive pena de o meu pai não estar por cá para assistir à mudança; para constatar que, afinal, o mundo que ele um dia me deixou ia ser bem melhor do que aquele em que ele vivera a sua vida inteira.

E mais anos se passaram…

E a pouco e pouco fui deixando a juventude para trás. As rugas apareceram e os meus cabelos foram-se tingindo de branco. Quanto ao País, à terra onde nasci, após a revolução dos cravos as mudanças foram também acontecendo. Os políticos têm vindo a revezar-se nos corredores do poder, sempre e sempre prometendo uma vida melhor para todos. Mas no final, quando relutantemente cedem os seus lugares a outros, o que resta das suas promessas é uma vida melhor para eles próprios. Quanto ao povo, esse continua na mesma. Como Portugal, que continua no seu lugar de sempre… na cauda da Europa.

É por isso que sempre me lembro do meu pai quando me ouço, hoje, em desespero, repetindo a tal pergunta aos meus amigos... “mas que raio de país vou deixar ao meu filho?”
Curiosamente, como há 70 e mais anos a pergunta continua sem resposta…

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