24 de abril de 2011

Não deixem morrer a esperança

Luís Farinha

Parece que foi ontem e já passaram 37 anos...

Três décadas e meia depois da Revolução de Abril há sonhos realizados e outros que ainda continuam adiados. Há expectativas plenamente preenchidas e outras que, entretanto, se frustraram. Há muita gente feliz e outra que não consegue calar a sua desilusão.

O 25 de Abril foi inventado, sobretudo, para dar ensejo aos portugueses de encontrarem uma nova identidade nacional. E o tempo que veio depois, serviu para esbater as mágoas acumuladas e, sobretudo para se aprender a soletrar a palavra liberdade.

Entretanto, pelo meio, resistindo aos tempos de mudança, ficaram os obstinados, os que não foram capazes de perceber que nada é imutável, menos ainda em política. E que a história dos povos, toda ela tem sido construída de convulsões.

A verdade é que apesar das comemorações e das palavras bonitas que nestas alturas se dizem, ainda há quem olhe para trás não conseguindo esconder a nostalgia.

O direito à diferença (que Abril consagrou) exige que respeitemos as convicções dos que preservam os valores do “antigamente”. Mas há outros, quiçá a maioria, que ainda hoje se emocionam quando recordam aquela madrugada, acordada em alvoroço há 37 anos atrás.

Espanto, incredulidade, medo, exultação, foram os condimentos que deram um sabor único aos acontecimentos daquele dia inesquecível. Quem poderá esquecê-lo?

E três décadas depois?

Ódios, rancores, recalcamentos, tudo isso se foi diluindo nos recessos do tempo. Com a democracia veio a tolerância, enquanto a liberdade fez esquecer a raiva. Hoje, aprendido já um novo ritmo de vida, olha-se o passado com alguma saudade. A saudade daquela manhã de Abril, em que Portugal acordou mais livre, em que todos acreditámos que Portugal encontrara finalmente o caminho para uma vida melhor.

Passada a data histórica já muito se falou e rios de tinta se gastaram para descrever as muitas histórias que fizeram desse tempo, um dos mais bonitos e mais conturbados do século XX, em Portugal.
Pintado de cores diferentes, conforme a perspectiva e os interesses de cada um, o 25 de Abril tem vindo, desde há 37 anos, a ser entendido negativamente por uns milhares de portugueses e positivamente por milhões de outros portugueses.

Faz 37 anos que Portugal mudou... ou que devia ter mudado para melhor, como muitos sustentam. Mas a verdade é que, pese embora as queixas, muitas coisas melhoraram e isso é inegável.

Conquistou-se, por exemplo, o direito de denunciar os excessos dos senhores governantes; o direito de informar a opinião pública acerca da corrupção que, passadas as indecisões do 25 de Abril, voltaram a fazer as delícias dos que detêm as rédeas das grandes instituições; conquistou-se o direito de dizer que “o rei vai nu”.

Seja como for, feito o balanço do tempo que passou e rememorando o Portugal do antigamente, fácil é chegar à conclusão de que o saldo é positivo. Fácil é concluir que os ganhos são bem maiores do que as perdas. É que, apesar de tudo, se o resultado da Revolução de Abril não foi nem trouxe o que muitos esperavam, a culpa não pode (não deve) ser atribuída a quem a promoveu e levou a cabo, mas sim à falta de talento dos que se apressaram a afirmar-se capazes de governar uma Nação renovada, quando – ao fim e ao cabo – as suas capacidades apenas se têm limitado a governar (e bem) os seus próprios interesses.

Faz 37 anos que Portugal mudou. E se não pode dizer-se que a mudança trouxe o que a maioria esperava, uma coisa é certa: pior do que estávamos antes de 1974, também não é possível.

Daí que, feitas as contas, sempre dá para (pelo menos) não lamentarmos o 25 de Abril.

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