8 de agosto de 2012

Já basta o que basta!

Luís Farinha


Neste nosso martirizado país há duas áreas de criminalidade cuja frequência e gravidade têm vindo a crescer sem que - pelo menos aparentemente - sejam tomadas medidas susceptíveis de as minimizar. Refiro-me à pedofilia e aos incêndios que têm vindo a devastar o que resta da floresta portuguesa. É certo que a delinquência vem registando nos últimos tempos, na sua globalidade, uma gravidade preocupante, porém as que acima destaco parecem em vias de se tornarem de todo insanáveis por razões que escapam ao cidadão comum já assoberbado de medo por outras razões.

Não quero com isto significar que, tanto a pedofilia como os fogos postos [ou causados por descuido], sejam actos condenáveis recentes, mas lá que têm vindo a aumentar gradual e rapidamente isso é verdade. Basta acompanhar as notícias dadas à estampa diariamente para o confirmar.

Dir-me-ão (e é verdade) que antigamente, no tempo da outra senhora, a censura - com a sua obstinação no sentido de preservar a idílica imagem de Portugal como “um jardim à beira-mar plantado” ou um país de “brandos costumes” - portava-se como cão-de-fila não deixando a comunicação social dar conta do que, no seu entender, manchava a reputação bucólica da nação edificada e mantida em estado puro pelo senhor presidente do conselho de ministros de então. É igualmente verdade que nesses tempos a polícia (GNR incluída) não era ainda ensinada a tratar o delinquente comum com respeito e parcimónia. Era bruta a explicar as coisas e, mal entrava no posto levando o sujeito preso por arreata, em vez de começar a fazer perguntas ia logo cumprimentando e dando as boas vindas ao eventual criminoso com umas bordoadas, assim em jeito de apresentação. Seja porque os tempos eram outros ou lá pelo que fosse, a verdade é que as famílias podiam sair à noite a ver as montras iluminadas das “baixas” de Lisboa ou Porto sem medo de serem assaltadas ou maltratadas e de dia ainda não usavam o hábito de evitar as ruas pouco concorridas, sempre alerta, olhando de soslaio ou por cima do ombro.

Mas voltando à execrável pedofilia é de crer que tal crime vem de longe, de muito longe. Acontece, porém, que a relevância suscitada pela liberdade de imprensa trazida pelo 25 de Abril põe agora a nu um crime que antes era ocultado pelo antigo regime em nome dos tais “brandos costumes” a que já fiz referência. Acresce ainda o facto de que o abuso sexual das crianças é, em muitos casos, uma bestialidade que ocorre no seio das próprias famílias e, nesses casos, a vergonha suscitada por tais acções canalhas evita normalmente que o seu conhecimento chegue ao domínio público.

Outro caso, porém, é o que tem os incêndios como cenário. Fogos sempre houveram e a sua ocorrência sempre teve origem em três causas directas: 1. falta de prevenção na limpeza e vigilância das matas; 2. descuido dos seus utentes nas queimadas mal protegidas e 3. fogo posto. No primeiro caso é ao estado que devem ser imputadas as culpas. A falta dessa medida é notória e persistente vá-se lá saber porquê. No segundo, elas as culpas, são devidas ao descuido ou irresponsabilidade de quem por esta ou aquela razão frequenta os locais arborizados sendo sintomática da falta de civismo dessas criaturas. Repetindo-me: já que a limpeza das propriedades privadas é da responsabilidade dos seus proprietários a falta de cuidado na limpeza das mesmas ou da sua utilização indevida deviam ser fiscalizadas sistematicamente pelas autoridades, nomeadamente no princípio das épocas quentes e secas, penalizando com dureza os prevaricadores. Resta abordar aqui os incêndios popularmente designados de fogo-posto. O vandalismo, a embriaguez seja de que tipo for, a vingança pueril, o interesse monetário, a maldade na sua expressão mais crua, a imbecilidade e a loucura são geralmente as causas susceptíveis de transformar o ser humano num animal irracional capaz desse crime hediondo. Chegados a essa conclusão, resta às autoridades perseguir e privar da liberdade por largo tempo os autores deste desvario devendo essa acção ser entendida como uma prioridade da justiça. Só isso, conclui-se, pode levar os energúmenos a considerar que realmente o crime não compensa.
           
As entidades oficiais bem jogam com a abstracção dos números das estatísticas, tentando com essa engenharia aritmética mostrar que estão atentas aos problemas da nação, acabando quase sempre por concluir que, afinal, o diabo não é tão feio como o pintam. Senhores políticos, do alto dos meus muitos anos já vividos permito-me recomendar-vos que essa estratégia já deu o que tinha a dar. De estatísticas buriladas está o cidadão cansado. É árvore que já deu frutos… mas que secou.

Eu sei, nós sabemos que por vontade dos senhores governantes os problemas aqui enunciados não deviam ser focados assim tão frontalmente porque fazem prova da descorada operacionalidade de algumas cadeiras sensíveis do poder. Mas, como qualquer burro teimoso, não consigo alhear-me de que há mais anos do que aqueles que alguns dos senhores têm de vida me venho esforçando para constituir a pedra de tropeço de alguns políticos que têm vindo a alcandorar-se nos altos poleiros dos governos da Nação para melhor servirem os seus interesses pessoais e os do seu círculo de influência partidária.

Fiquemos por aqui…   

Vamos mas é arregaçar as mangas e trabalhar a sério pois é isso que o povo espera e precisa.

Medidas, senhores, medidas…

Deixemo-nos de querer mostrar a beleza da montra, quando no armazém a indigência é deprimente.

Já basta o que basta!

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