21 de agosto de 2012

Os labirintos da droga

Luís Farinha


Há razões para acreditar que chegaremos a um tempo em que nos vamos envergonhar do país que deixamos aos nossos filhos

O comandante da Divisão da PSP interrompeu a entrevista que me estava a dar e olhou para os recém-chegados com o ar ausente de quem já está habituado a cenas como aquela. Na esquadra acabavam de entrar dois agentes e com eles um jovem, seguro por um braço. Soube logo a seguir que se tratava de um toxicodependente com passagens habituais pela polícia. Um dos muitos que para satisfazerem o vício não recuam perante nada, inclusive o tráfico e o roubo. A impressão causada por este episódio veio-me confirmar que a abordagem aos problemas da toxicodependência não pode continuar a ser feita com discursos, apelos, processos de intenções com o único propósito de acalmar a turba.

Agora, quando para este flagelo já poucas são as hipóteses de cura, é que todo o mundo lamenta o ponto a que se chegou. Fazem-se e desfazem-se leis, inventam-se [no papel] esquemas de luta contra a proliferação da droga, abre-se – aqui e ali – mais um centro de recuperação [retiros que não passam de meros paliativos face à complexidade do problema], organizam-se tímidas campanhas para desincentivar o consumo, enfim... como baratas tontas procuram-se meios para remediar hoje o que antes, e a tempo, a sociedade não soube prevenir.

É errado pensar que a toxicodependência está consignada a alguns países, a algumas regiões, a determinadas cidades, a uns quantos estratos sociais. Não, o flagelo está disseminado por todo o mundo e vive ao lado de todos nós. O jovem que nós conhecemos, a menina que vimos crescer, o filho do nosso amigo, a nossa própria filha, ou filho, podem ser, sem que disso suspeitemos, consumidores habituais de droga, escravos desse vício maldito.

Os sinistros traficantes da morte insinuam-se nas escolas dos nossos filhos, nos nossos postos de trabalho, no café que frequentamos e até nas esquinas do bairro onde vivemos. Como ratos, eles proliferam por todo o lado, promovendo o hábito, semeando a desgraça, impondo o seu comércio miserável.

Instituiu-se o "Dia Mundial da Luta Contra a Toxicodependência", uma espécie de grito de alarme e de apelo desesperado de quem já pouco mais pode fazer. Entretanto, todos os dias mais jovens continuam a morrer, vítimas do vício odioso. Jovens para os quais a vida era, ainda ontem, um mundo de promessas. Todos os dias os jornais nos contam histórias de mortes desnecessárias de jovens que acabam no vão de uma escada, numa retrete pública ou noutro tugúrio infame, como se, de repente, tivessem decidido jogar a própria vida numa última e derradeira dose.

Entretanto, alguma coisa mais precisa de ser feita, quanto antes. No tempo que nos resta para nos redimirmos da acomodação cúmplice a que nos temos remetido durante anos seguidos. Só assim, talvez um dia não tenhamos de nos envergonhar do mundo que deixamos às gerações que hão-de vir.

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