28 de dezembro de 2011

Novos tempos

Luís Farinha

Sinto-me totalmente fora de moda. Confesso-me culpado de não ter sido capaz de acompanhar os novos rumos que a vida e as pessoas decidiram tomar. Fiquei a olhar, distraído, para o mundo que corria à minha volta sem me dar conta que estava a perder o comboio da modernidade. Não me refiro a um ou outro aspecto em particular, mas ao todo que habitualmente se entende como "a sociedade".

A pergunta que hoje me coloco é esta: sou eu que tenho andado desatento nos últimos anos, ou deixei que tudo fosse acontecendo à revelia da minha capacidade de observação? A verdade, penso eu, é que a mudança se foi instalando com pezinhos de lã, enquanto eu olhava, embasbacado, para outras coisas.

Querem um exemplo?

Há uma coisa que até há um par de anos atrás seria tido como algo impossível de um dia vir a acontecer mas que actualmente é comummente aceite como normal no actual folclore da televisão. Refiro-me à recente versão do Big Brother, agora baptizada de “Casa dos Segredos 2” e ao implacável incitamento que a produção do programa faz para que os concorrentes enveredem pela exibição pública de sexo. A verdade é que os ditos concorrentes vão para ali rotulados de rapazes e moçoilas de boa moral. Contudo, até as suas famílias são levadas a intervir, pronunciando-se quanto às denúncias públicas de eventuais episódios de sexo protagonizadas pelas suas prendadas filhas.

Todos os dias a imprensa - não toda, evidentemente - publica o andamento do concurso (!), com títulos e subtítulos sugestivos: "Fulana e beltrano metem-se na cama e a mãe dela chateia-se". Entretanto, mais abaixo: "O pior é que nos intervalos, fulana agarra-se a outro...". Mais acima, em destaque, a mãe esclarece: "A minha filha não era assim". E em letra miúda, ao longo das páginas, outros pormenores vão apelando à avidez dos apreciadores deste edificante género de leitura. A coisa chegou a tal ponto que já não surpreendeu ninguém a ‘notícia’ vinda a lume em 27 de Dezembro passado, num jornal de ‘grande tiragem’, que ia a noite adiantada na Casa dos Segredos quando Zulmira (nome suposto) foi ao quarto de Reinaldo (nome suposto) e, sem mais aquelas, começou a fazer sexo oral e a masturbar o (sujeito). A notícia era acompanhada de fotos sugestivas.   

Como comecei por referir, devo ser eu que estou completamente fora de moda. Provavelmente, concluo agora, a culpa reside em mim por não ter sido capaz de acompanhar a evolução dos costumes e as novas normas de conduta desta sociedade modernaça.

Mas que querem?
Os anos não perdoam e eu venho dum tempo em que ainda não passava pela cabeça de ninguém que os meios de comunicação social viessem um dia a ocupar os seus espaços e tempos de antena com coisas que então eram apodadas de bandalheiras.

Relativamente à cena acima referida atrevo-me a pôr as seguintes questões: como é que a dotada menina irá enfrentar os seus conterrâneos quando regressar a casa? E os seus pais, face aos vizinhos, amigos e conhecidos? Provavelmente com toda a naturalidade. Pela amostra…

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