11 de junho de 2011

Cansaço!

Luís Farinha


“Não ligues… deixa p´ra lá!”
“Vive e deixa viver…”
“Ó homem, leva as coisas a brincar!”

Com pequenas variantes, é esta a tónica dos conselhos que ouço dos meus amigos quando lhes falo da minha dificuldade em aceitar a vida como ela é neste tempo sem espaço para sonhar os tempos que hão-de vir.

Ouço-os mas não sou capaz de me desligar dum conceito que a vida me ensinou: "quem sabe, faz… quem não sabe dá conselhos". A verdade é que nenhum desses que me aconselham a encerrar-me numa redoma dá sinais de que siga, ele próprio, a espécie de autismo que me sugere.

Acreditem, sinto-me mesmo cansado!

Estou cansado de assistir, impotente, ao alegre aviltamento desta nossa Nação que vai avançando no tempo, trôpega, aos trancos e solavancos.

Estou cansado de políticos sem palavra; sem carácter; sem sagacidade; homens e mulheres interessados exclusivamente em alimentar o seu avoado protagonismo. Como cansado estou das suas promessas ocas.

Confesso a minha incapacidade de olhar indiferente para a indiferença que noto nas gentes do meu país face ao quadro misérrimo em que vivem e que só Deus sabe por quanto tempo mais continuarão a viver. Por culpa da sua mansidão cúmplice, evidentemente.

Estou cansado de esperar, em vão, que Portugal se livre da mediocridade a que a governação lamentável duma sucessão de homens sem brilho o tem vindo a condenar sem esperança.

Gostava de ter força bastante para sacudir com fúria a consciência adormecida dos homens e mulheres do meu país. Mas sinto-me já cansado do esforço que tenho feito. Em vão.

Gostava de conseguir despertar nesses homens e mulheres quebrantados pela inércia tíbia em que sempre viveram, o seu direito à indignação. Queria poder explicar-lhes que nada os obriga a aceitar esta indigência a que se julgam irremediavelmente condenados. E que o país onde nasceram pode ser tão próspero como outros tão pequenos quanto ele. Sobretudo, queria levá-los a acreditar na verdade indesmentível que, se eles quiserem, Portugal também pode ser uma nação com futuro e todos nós mais felizes.

Mas estou cansado, podem crer. Um cansaço feito de desilusões que vêm dum tempo que me parece eterno. Desde há muito que venho passando mensagens de sensibilização em meios de comunicação os mais diversos, mensagens construídas de palavras umas vezes angustiadas, outras, muitas outras insubmissas, todas elas incómodas, eu sei.

E o resultado desse esforço? Alheios à prática duma cidadania plena, os portugueses vão continuando a viver um quotidiano sem perspectivas, encerrados nos seus pequeninos universos pessoais onde os valores maiores são constituídos de telemóveis, telenovelas, popós repletos de extras, jogos da bola e viagens ao estrangeiro, num desfile de parola vaidade, num faz-de-conta construído de créditos por liquidar.

Insânia? Bobagem? Idiotice? Seja lá o que for, a verdade é que tanta mansidão faz dos portugueses cidadãos impressionantemente passivos, roubando-lhes o discernimento que seria desejável num período tão crítico como este que atravessamos. Fazer como a avestruz numa altura destas, mais do que lamentável deve ser encarado como profundamente melindroso para quem, inapropriadamente, a si próprio se atribui a qualidade de cidadão responsável.

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