26 de julho de 2012

“Esta pressa de agora…”

Luís Farinha
  

Passamos a vida a correr...

Melhor seria dizer que passamos a vida a correr atrás de coisa nenhuma!

É a ânsia de partir e de chegar. É o afogo e a cultura do “já devia lá estar!” É a pressa, o afã, a ansiedade, a impaciência. É o frenesi da loucura colectiva em que transformámos o dia-a-dia.

É assim que vivemos, ou melhor, é assim que não vivemos!

Sim, porque essa coisa de dizermos que esta é a vida que temos nos tempos que correm, não passa de uma expressão falaciosa. Porque, se virmos bem, esta é uma vida que não temos! Uma vida que não vivemos...

Porque isto assim, este corre-corre atrás de coisa nenhuma não passa de uma forma de ir gastando o tempo sem honra nem proveito.

Afinal, a pouco e pouco fomo-nos transformando em meros cumpridores de horários. E o mais curioso é que acabamos por não cumprir coisa nenhuma, uma vez que nunca chegamos a tempo seja aonde for.

É verdade ou não é?

E se pensam que estou a exagerar quando digo que somos assim uma espécie de atrasados compulsivos, basta observar a maneira como conduzimos nas estradas, ou nas ruas das cidades.

Já repararam na frustração que sentimos por não podermos ocupar o lugar de quem segue na frente ou na faixa do lado?

Quando conduzem na cidade, ainda não se deram conta da impaciência com que tocam a buzina assim que no semáforo se acende o sinal verde. Como se chegar e partir fosse uma coisa automática?

Na estrada, nas longas filas de viaturas que às vezes se formam, já repararam nos disparates que fazemos para ultrapassar o carro da frente, para em seguida continuarmos a passo de caracol?

Nas filas seja do que for que tenha um balcão ou um guichete já observaram as cenas que se fazem quando alguém se lembra de assomar à frente só para pedir um impresso para preencher? E tudo isso para depois, quando chega a sua vez, ficarem à conversa fiada, a falar de futebol, da telenovela ou de outra banalidade qualquer com o funcionário que o atendeu?

É... disfarçamos a frustração latente com essa imitação de urgência. E isso azeda-nos o dia-a-dia. Faz da nossa vida um caos, um inferno pegado.

É por isso que eu digo que temos de reaprender a viver. Temos de vencer essa apetência pelo... “já devia lá estar”. Temos, enfim de pensar que quanto mais corremos, mais depressa chegamos ao fim. E o fim, meus amigos é uma palavra feia, que soa mal, uma coisa que ninguém gosta de sentir. 
  
Acalmemos, portanto. Aprendamos a glosar as coisas boas que cada vez são mais difíceis de encontrar. Como a paciência, a calma, a tranquilidade.

Creiam que vale a pena. De resto, para nos envenenar a alma e os sentidos já basta a merda de vida que temos pela frente…

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