20 de junho de 2012

Os velhos do meu país

Luís Farinha
Quando naquele fim de tarde atravessava o Jardim Constantino, em Lisboa, não pude evitar uma breve paragem para observar uns velhotes que, apesar da morrinha que caía e da demasiada “frescura” que se fazia sentir, ali estavam, à volta de uma mesa improvisada e dum baralho de cartas. Jogavam, para matar o tempo inútil que é agora o seu.
O que me fez ficar com pele de galinha, foi a perspectiva de, também eu, um dia, poder fazer parte dum grupo como aquele.
Olhei aqueles rostos anónimos, quase sem expressão, e lembrei-me de muitos outros homens e mulheres, velhos como aqueles, que estiolam nos chamados “lares da terceira idade”, essa espécie de antecâmaras da morte cuja proximidade pressentem. Os "lares" para onde o egoísmo dos mais novos atira os seus idosos, como de trastes inúteis e incómodos se tratasse. Não, não estou a apontar o dedo seja a quem for, acreditem. A fazê-lo teria de começar por mim, pois ainda hoje (e já passaram tantos anos…) não consigo perdoar-me pela morte da senhora Virgínia, minha mãe, num desses locais desolantes inventados pela mesquinhes de que só os humanos são capazes.
Mas, voltando aos velhos do jardim, confesso que ante aquele quadro deplorável, fiquei profundamente consternado.
Induzido pelo cenário decrépito, acudiram-me à memória, de repente, algumas notícias lidas na imprensa referindo o repetitivo aviso de alguns governantes segundo os quais “o que cada português activo desconta para a segurança social, está a tornar-se insuficiente para manter o crescente número de aposentados”.
Se, como afirmam a cada passo os comentadores economistas, a segurança social não está de boa saúde, e se Portugal é hoje, reconhecidamente, um país de velhos, o que vai ser do cada vez maior número de pensionistas? É uma perspectiva que assusta, mais ainda quando os políticos manifestam uma tão evidente falta de talento para encontrar soluções capazes de garantir aos mais idosos a tranquilidade de que tanto precisam, e merecem...
Promessas têm-se ouvido muitas e é por isso que, sempre que se aproxima mais uma campanha eleitoral, se reacende a esperança dos idosos, levando-os a acreditar nas patranhas tão exaltadas pelos palavrosos candidatos a governantes. Entretanto, com as pensões de miséria que o Estado lhes concede relutantemente e lhes cerceia quando lhes dá na tineta, lá vão tentando enganar a miséria, enquanto alguns desses novos aristocratas do regime engendram para si reformas principescas, usando a seu favor o conhecimento adquirido no manejo da máquina do poder.
Ao cruzar o Jardim Constantino, parei a olhar aqueles idosos que ao frio jogavam as cartas para afastar a solidão. Quando por fim me afastei, senti os olhos húmidos. Mas não fiquem para aí a pensar que era de pena ou de raiva. Era da chuva miudinha que caía…
Entretanto, para trás ficou aquele grupo de velhos que do futuro nada esperam. Idosos que já há muito deixaram de sonhar.

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