11 de novembro de 2011

Crianças que a vida condenou

Luís Farinha


As redes pedófilas são a explicação mais comum para os contínuos desaparecimentos de que a imprensa dá conta

Sabe-se que ao longo dos tempos as crianças têm sido alvo de sevícias por parte de adultos, umas por incúria de quem delas devia cuidar com carinho, outras para satisfazer impulsos libidinosos. Contudo, ultimamente, por maior liberdade de informar ou por uma maior consciência humanitária têm chegado ao domínio público as notícias mais inverosímeis e tenebrosas. Exemplo disso, as recentes vindas a lume, segundo as quais foram registadas apreensões de um sem número de computadores recheados de imagens e listas de crianças apanhadas na prática da pornografia infantil. 

Uma coisa é certa: as crianças estão em perigo, fora e dentro de casa, vítimas inocentes dos ímpetos mais hediondos de que é capaz o ser humano. Em casa quando é a própria família a sujeitá-las a tratamento o mais degradante. No exterior, quando a bestialidade de homens e mulheres atinge o paroxismo. Quem não tem presente o caso dos jovens de paradeiro incerto desaparecidos ao longo dos anos, jovens cujos familiares choram diariamente a sua ausência e a incerteza do seu destino?

Histórias de crianças sujeitas a actos ignóbeis perdem-se na memória dos tempos e na lembrança dos homens e mulheres; eles e elas absorvidos num dia-a-dia cada vez mais difícil de levar em diante.

As redes pedófilas são a explicação mais comum para os contínuos desaparecimentos de que a imprensa nos dá conta. Quadrilhas de criminosos, para quem uma criança só tem o valor que o mercado especializado lhes oferece em troca de uma vida que destroem e de famílias que ficam desfeitas são cada vez mais numerosas. A Lei, ainda que mergulhada em burocracia e com uma absurda falta de meios adequados, lá vai procurando resolver um ou outro caso, mas na maioria das vezes o seu empenho esgota-se em autênticos becos sem saída.

É certo que obstar a que o nefando comércio prossiga e progrida não é tarefa fácil, mais ainda tendo em conta que os lucros por ele obtidos atingem valores de tal grandeza que chega para acordar o que de mais abominável o ser humano guarda dentro de si, aprimorando os processos de recrutamento e de fuga à justiça. Destinados a alimentar a perversão de uma certa classe de endinheirados, tudo é sacrificado na satisfação dos seus apetites hediondos arrasadores do que mais estimável há numa criança, a inocência. Para o efeito, vão-se sofisticando os métodos de aliciamento, de rapto e de tráfico, de que as tão aclamadas redes sociais são exemplo. E o pior de tudo é que, não raro, são as próprias famílias, mercê da sua inultrapassável miséria, que colaboram no primeiro passo a caminho da degradação total dos pequenos seres a quem deram vida.

É difícil aceitar esta teoria, eu sei, mas há verdades que não devem ser escamoteadas.      

Sem comentários:

Enviar um comentário