16 de dezembro de 2012

O meu sonho por cumprir

Luís Farinha


A vida é mesmo assim, formada de algumas coisas boas, à mistura com muitas outras que nos perturbam até ao fundo da alma.

Meus amigos... a vida é tudo isso, mas é também a única que temos. E, mais não seja, isso é já razão bastante para não nos deixarmos vencer nas horas amargas, porque depois de cada instante há sempre outro que vem chegando e a verdade é que tudo na nossa vida só precisa de um breve instante para mudar.

É por isso, meus amigos que eu - apesar dos anos que já deixei para trás  continuo a acreditar que daqui a uma hora ou quem sabe se apenas a um breve minuto a vida me vai oferecer aquilo por que eu sempre esperei, que eu sempre desejei...

É uma postura optimista, um acto de fé, uma forma de estar na vida. Pode ser uma dessas coisas… podem ser essas coisas todas.

De qualquer modo, já atingi aquele estágio da existência em que só me resta assistir ao renascer das manhãs que ainda me forem concedidas. Teimosamente, mantenho viva a esperança de que, numa delas, o meu sonho tenha acabado por materializar-se. Que os homens tenham acabado finalmente por tomar consciência de que andaram tempo demais a cultivar a desordem, o caos, a instabilidade, sua e dos outros. Que neste mundo alucinado e alucinante em que me foi dado viver já não há motivos para a denúncia das injustiças que faziam parte do quotidiano. Quero constatar que cessou a ambição desmedida, a falta de sentido da honra, a valorização do vazio, o abuso do poder, a demagogia, a cultura do protagonismo. Que, embora tardiamente, foram por fim escorraçadas as moléstias que fizeram do mundo dito civilizado aquilo em que o transformaram.

A vida, meus amigos, não é bem aquilo que a maioria de nós sonhou, realmente não é. Contudo, é importante que não percamos a faculdade de sonhar, de amar a vida. É importante, sobretudo, que mantenhamos a perspectiva de que, para cada um de nós, tudo na vida pode mudar num instante apenas, bastando para isso um pequeno quase-nada e, sobretudo, que a sensatez desceu sobre as mentes deturpadas pela ganância do dinheiro, pela sede do poder, pela ausência dos valores que distinguem (consagram) o homem merecedor de um mundo melhor, o homem civilizado.

Recordo-me que quando era jovem quase sempre adormecia com um pensamento que me fazia feliz. Acreditava então que o dia de amanhã seria o tal em que, finalmente, me iria acontecer aquela grande aventura que eu esperava há muito tempo.

Era um pensamento ingénuo?
Talvez fosse, mas a verdade é que ele alimentou grande parte da minha adolescência e do período que lhe sucedeu.

E sabem uma coisa? Muitos anos depois, nesta idade em que normalmente as utopias já não comandam a vida, ainda dou por mim, de vez em quando, a adormecer com o pensamento de que o amanhã que aí vem é que me trará, finalmente, a realização do tal sonho que sempre me embalou. Será isto um sinal evidente de decrepitude? De senilidade? Aceito que pensem que sim porque – acreditem – teimoso que sou não consigo perder a esperança…

Sem comentários:

Enviar um comentário