Luís
Farinha
Eu
não sei se isso acontece convosco. Não sei se, como eu, também lhes dá de vez em
quando para recordar o tempo da vossa juventude, como se o estivessem a viver de
novo. A mim acontece-me, principalmente quando vagueio por esta Lisboa que foi o
berço e o espaço geográfico da minha vida inteira. Acontece-me também quando,
fechado nos silêncios que vão sendo cada vez maiores, tento evocar os amigos
(homens e mulheres) que foram ficando pelo longo caminho que deixei para trás.
Umas
vezes, as recordações deixam-me feliz; outras, pelo contrário, trazem-me alguma
tristeza. Tudo isso porque, como vocês sabem, a vida de cada um de nós não tem,
exactamente, aquela cor rosa suave com que muitos, à viva força, a querem
pintar.
O
que interessa, meus amigos, é que no balanço da vida vivida de um sujeito como
eu, que já começou a contar o tempo em sentido decrescente, o saldo seja
francamente positivo, como foi o meu.
Por
falar disso e por estranho que pareça, a verdade é que o balanço que a maioria
de nós faz da vida que deixou para trás, é quase sempre positiva. E isso, porque
se dos episódios que vivemos fizemos um bom aproveitamento, então os que
rotulamos de menos felizes servem, pelo menos, para enriquecer a experiência que
mais tarde ou mais cedo acaba por dar frutos.
É
claro que há também quem da vida não consiga extrair ensinamento nenhum, por
mais inteligente que se julgue, mas isso não vem agora a
propósito…
No
fundo, só é pena que quando a vida já nos ensinou tudo o que havia para
aprender, quase sempre já é tarde para utilizarmos as lições que ela nos
facultou.
Talvez
seja por isso mesmo que hoje me limito a olhar com saudade para o tempo que
passou, convencido que se uma máquina do tempo me levasse de volta à juventude
que ficou para trás, tornaria provavelmente a fazer os mesmos disparates, os
tais que hoje não passam de recordações prestes a extinguir-se, como eu próprio
me vou extinguindo ao correr imparável a caminho do pó de onde um dia vim.
Contudo, de uma coisa estou eu certo: essas vivências ajudaram a fazer de mim o
velho que hoje sou e de que não me envergonho.
Chamem-lhe
nostalgia, saudade, o que quiserem. Para mim, recordar é apenas um dos poucos
exercícios que me restam, porque velho que sou, só me sobra o passado, já que o
presente pouco tem de atractivo.
Dizia
eu que as recordações me assaltam com mais frequência quando vagueio por Lisboa.
Porém, verdade seja dita que, na cidade grande, já poucas referências vão
sobrando do tempo em que ela, mais humanizada, era um encanto para os olhos e um
prazer para os sentidos.
Tal
como acontece com a vida que até agora vivi, Lisboa não é hoje mais do que uma
vaga lembrança perdida nos fumos do tempo. Tempo que ficou para trás e que
jamais voltará.
No
fim de contas, meus amigos, é sempre penoso virar a última página de um belo
livro que se leu com prazer.
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