4 de março de 2013

Nem mais tempo…

Luís Farinha

“Em 21 de Janeiro, o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, solicitou ao      Eurogrupo a extensão dos prazos de maturidade dos empréstimos a                 Portugal, de modo a facilitar o regresso aos mercados”. (04.Março.2013 – CM)

Passos Coelho e Vítor Gaspar dão finalmente o dito por não dito ao ter agora (ainda que tardiamente) percebido que a sua miopia económica só podia ter um resultado: a queda no abismo. O slogn “Nem mais tempo nem mais dinheiro”, gritado obstinadamente pelos dois governantes era, além de claramente populista, inexequível e irremediavelmente suicidário. Os apelos veementes que de há muito lhes vinham a ser dirigidos pelos vários sectores de influência da vida portuguesa no sentido de ser corrigida a estratégia absurdamente adoptada, batiam numa espécie de muralha de betão, surda à lógica e à razão. E, entretanto, o declive foi-se inclinando cada vez mais.

Será que o ataque de deslumbramento que parece ter afectado o primeiro-ministro e o seu estratega financeiro desde que promovidos aos lugares que ocupam já terá sido ultrapassado? Façamos votos que o Divino os tenha iluminado…

Contudo, pelo sim ou pelo não talvez não seja demais ficarmos atentos ao que vier a seguir…

Seguidor da teoria de que nada acontece por acaso, permito-me apontar duas ou três razões que, acredito, podem ter contribuído para a tão notória (e criticada) indiferença manifestada pelos senhores Passos Coelho e Vítor Gaspar relativamente aos que, no terreno, anseiam por uma explicação que os faça entender a razão de uma nova taxa, o aumento de um imposto ou o corte de uma regalia. Na maioria dos casos, o conhecimento dessas decisões do Governo tem sido adquirido pelos cidadãos através dos media ou da desnutrida e apressada informação de um qualquer assessor ou secretário do gabinete da pasta. No vazio, fica assim não só a explicação cabal capaz de justificar a medida tomada como também a sensação de que, tal como no regime salazarista, o povo português continua a não ter o direito de ser ouvido seja a que pretexto for. Trata-se, de resto, da atitude igualmente adoptada por certas pessoas que, por razões nem sempre as mais íntegras, usufruem de elevada situação económica, levando-as – por isso – a sentirem-se no direito de perorar sobre a vida de quem pouco ou nada tem, dos que se debatem com a escassez de tudo e que se vêem de um dia para o outro a ser esbulhados do pouco que lhes resta, sem cerimónia ou sem que lhes expliquem por quê. “Aguenta, aguenta”, garantem esses filósofos de pacotilha do alto da sua abastança. E os governantes, pouco sábios e claramente ignorantes de como é a vida rasteira dos portugueses, acreditam e decidem em conformidade.

Não pretendo com isto apoucar a capacidade técnica dos jovens senhores que se sentam nas cadeiras do poder. Serão economistas de alto gabarito habituados à manipulação de números e a calcular os efeitos das suas manobras contabilísticas em favor de quem lhes oferece cargos supimpamente remunerados. Contudo, lamentavelmente, nunca ninguém lhes ensinou que os seus exercícios de aritmética pura não podem ser usados com frieza abstracta quando envolvem um povo, uma Nação. E no caso presente é isso que vem acontecendo, agora, neste nosso país.

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